Violência no trânsito: como mudar comportamentos?


Em 2009, a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) promoveu um seminário intitulado “Desafios para o trânsito no Brasil”, realizado em Campo Grande/MS.

Nem precisamos lembrar que não são poucos e é claro que a educação para o trânsito estava mais uma vez lá, na velha lista dos “A FAZERES“, sempre incomodada, acossada com uma velha cobrança:

“e aí?

Vão fazer o que com a violência no trânsito? Dá pra contribuir? Como mudar os comportamentos?”

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Em 2004, a Organização Mundial de Saúde lançou um alerta para o crescimento de uma epidemia que transformará a saúde pública no futuro: a epidemia dos acidentes de trânsito. A ameaça já estava desenhada claramente em 1999, ocupando a nona posição dentre as dez principais causas de morte no mundo. Em 2025, esses acidentes serão a terceira maior causa de morte, superando as guerras e ultrapassando várias doenças para as quais não há hoje perspectiva de cura.

O alerta é global, mas tem destinatários certos: os homens do grupo etário de 15 a 25 anos, dos países da América Latina, do Continente Africano e de boa parte da Ásia. Assistiremos à massificação entre esses jovens da motorização sobre duas rodas e, em toda parte, a um processo de disseminação da violência no trânsito dos grandes centros urbanos para as pequenas cidades.

É o que já vem ocorrendo no Brasil desde 2006. Os maiores municípios ainda concentram 30% das mortes no trânsito no país, mas houve uma forte “migração” da violência para as outrora pacatas cidades do interior, com até 20.000 habitantes. Nelas, as mortes no trânsito cresceram a um ritmo até 8 vezes maior do que nas grandes cidades.

por Eduardo BiavatiNão há cidade no país, em qualquer região, sertão ou litoral, que tenha ficado imune à invasão das motos. Pensamos em motocicletas e logo vem à mente as imagens conturbadas de São Paulo, mas a revolução sobre duas rodas aconteceu mesmo no interior, nos pequenos centros urbanos, onde as pessoas ainda se deslocavam tranquilamente a pé ou no ritmo lento da bicicleta ou no lombo do jegue-velho-de-guerra. As pessoas simplesmente largaram o jegue no mato, aposentaram a bicicleta em prol do conforto, da velocidade e da economia inegáveis da motocicleta, e ascenderam social e economicamente sobre duas rodas na escala da mobilidade social.

A frota de motocicletas cresceu muito, mas, ainda assim, MUITO menos do que as mortes de seus pilotos e passageiros. Entre 1990 e 2006, o número de mortes de motociclistas aumentou:

2.152%

O processo foi tão rápido que dificilmente a gestão pública do trânsito teria condições de intervir a contento. E não interviu mesmo, por uma razão simples: dos 5.500 municípios brasileiros, pouco de mais de 1.000 municipalizaram a gestão do trânsito, desde a promulgação do Código de Trânsito em 1997. O clube dos mil e poucos concentra a maior parte da população brasileira e 70% da frota nacional, muito bem, mas apenas 30% do total de mortes no trânsito.

É certo que ficaram de fora desse clube “privilegiado” praticamente todos os municípios com menos de 100 mil habitantes. Lá, onde as mortes dispararam, faltou uma autoridade pública local para lidar com o novo padrão de violência introduzido pelas motocicletas.

As motocicletas tornaram-se o vetor dessa epidemia global de violência no trânsito, mas é claro que ela não se resume às duas rodas – essa é apenas a forma contemporânea e especificamente jovem de um fenômeno que ainda mata majoritariamente os pedestres, sempre as maiores vítimas, além de ocupantes de automóveis, ônibus e caminhões.

Na última década, sob a regência do novo Código de Trânsito, o Estado Brasileiro não produziu qualquer resultado significativo de redução da mortalidade e da morbidade da violência do trânsito em nossa sociedade. Não fomos capazes de conter o avanço das estatísticas de mortos e, muito menos, a geração anual de dezenas de milhares de incapacitados físicos – amputados, lesados medulares, lesados cerebrais no simples ato de transitar.

Sobre motocicletas e motociclistas leia mais nos posts:

Violência sobre duas rodas

O “corredor”

Breve nota sobre a vitória do Mototaxi


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De onde vem tanta violência? Como nascem os acidentes de trânsito? Não é possível que se gerem espontaneamente, à revelia das consciências e das ações humanas.

É uma suposição de longa tradição que a violência seja produto dos comportamentos, a soma de minúsculas contribuições de cada um. Costuma-se dizer que “cada um faz sua parte”, para o bem ou para o mal. Que mudem os comportamentos, portanto! E quanto mais cedo, melhor! Esse tem sido o papel da educação para o trânsito.

Por muitas décadas, e até hoje, a educação para o trânsito se resumiu a um adestramento para a performance e, também, para as normas. É sempre bom lembrar que trânsito era um problema de ordem, de segurança pública – basta ver a galeria de ex-presidentes e diretores dos departamentos estaduais, um desfile de coronéis, majores e capitães. O sonho dourado do gestor de trânsito era que, um dia, TODOS soubessem de cor e salteado cada placa, cada sinalização, cada gesto, cada silvo… Ah! Se fossemos imbuídos do código a cada instante de nossas vidas!

Essa educação para o trânsito – legalista, formalista, impositiva e excludente (porque, afinal, adestrar pedestres para as regras do carro é uma tarefa patética) – é uma derivação, por outro lado, de um processo muito maior que transformou o espaço urbano para a hegemonia absoluta do automóvel ao longo do século XX. “Compreender” o novo espaço, de vias expressas, viadutos, e outras invenções da engenharia de tráfego, logo se tornou, também, objetivo dessa educação – no fundo, o mesmo adestramento de sempre para o seguimento de regras criadas para o automóvel e seu condutor. Ah! Se fossemos imbuídos do significado e da beleza das engenhosas soluções viárias!

Desenvolvida e mantida pelos órgãos gestores de trânsito, a educação para o trânsito encontra grandes dificuldades em se descolar dessa inescapável função de zeladora da ordem. Não há espaço institucional para a crítica do sistema viário em que a circulação acontece, nem para a crítica da fiscalização das condutas na circulação.

Alheia aos outros dois E da velha equação (ENGINEERING + ENFORCEMENT + EDUCATION), a educação ateve-se à certeza inabalável de que se conformássemos os comportamentos do indivíduo ao espírito da regra, desde criancinha… um dia, então, teríamos uma sociedade de adultos responsáveis e cidadãos, uma sociedade livre de conflitos e de acidentes, ao menos os mais sérios.

Essa tem sido a operação fundamental da educação para o trânsito: a redução do fenômeno social que é a violência do trânsito à dimensão individual dos comportamentos, por um lado, e a eleição da infância como foco prioritário da ação, por outro. Ao invés de problematizar a violência, a educação para o trânsito anulou-a completamente da prática pedagógica e pôs-se a preparar os futuros jovens para um mundo melhor, postergando simplesmente a preparação dos jovens presentes para o mundo agora.


Educar o pequeno cidadão é um dever social inquestionável e uma aposta de que teremos adultos melhores e mais conscientes no trânsito. Certo? Pois não é o que mostram as estatísticas de mortes e acidentes urbanos e rodoviários em todo país. Os dados indicam, ao contrário, que o investimento realizado não repercute sequer até a juventude: no Brasil, o número de vítimas com idades entre 15 e 29 anos chega a representar quase 25% do total de mortos no trânsito, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Esses acidentes representam a segunda causa de morte entre jovens, superando todas as outras causas naturais. Jovens e homens, como seria de se esperar: 80,2% dos jovens mortos são do sexo masculino.


Sobre juventude leia mais nos posts:

Vocês sabem com quem estão falando?

Retratos do risco quando jovem

Lições from “down under”


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A educação para o trânsito precisa romper o silêncio sobre a violência porque isso introduz a possibilidade de compreensão, crítica e transformação do real – sem as quais, diga-se de passagem, diminuem muito as chances de diálogo com os jovens.

A violência nunca será uma referência “positiva” no discurso pedagógico – acidentes, colisões, atropelamentos, mortes, ferimentos e tal deixam pouca margem à ludicidade, incomodam a sensibilidade, são fenômenos verdadeiramente crus – mas sem ela perde-se o contraponto no real para a formação de uma atitude de autocuidado. Basta acompanhar a excelente campanha Tales of the Road, que vem sendo desenvolvida pelos ingleses para crianças menores de 10 anos, visando formar competências para a circulação a partir do conhecimento do risco.

Ao invés de projetar um mundo futuro, róseo e harmônico, e vender essa imagem hoje aos pupilos, o que é ainda pior, os educadores precisam compreender que o conflito é constitutivo da circulação, mas se ele assume a forma violenta que tem entre nós é porque ele é engendrado em dimensões muito mais profundas da vida coletiva. É um equívoco pensar que a violência deriva das vontades e comportamentos individuais. Essa psicologização da violência não nos levou a lugar nenhum: apresente-se um único resultado objetivo de qualquer ação de educação para o trânsito ou campanha pública realizadas nos últimos 20 anos.

Nem seria preciso dizer, mas é importante ter em mente:

a vida social não se reduz ao trânsito

Transitar é apenas uma de muitas outras ações do cotidiano. Por isso, é um grave erro inferir que maior mobilidade torna alguém cidadão. Ninguém é cidadão porque transita – essa é uma compreensão pobre de cidadania.

Transitar engendra conflito e é uma pena que jamais teremos uma medida direta disso. Temos ao menos a contagem da expressão máxima do conflito – o acidente de trânsito. Mesmo assim só daqueles que ferem e matam as pessoas. Eu queria saber dos quase-acidentes, dos incidentes, dos acidentes consumados que apenas romperam o farolete ou qualquer outro pedaço de matéria. Aí, sim, teríamos o contorno da URGÊNCIA SOCIAL a que deveríamos nos dedicar.

O trânsito entre nós é o exercício coletivo da violência porque somos cúmplices do massacre cotidiano e sistemático das regras. A despeito de estarmos no carro climatizado ou andando com o pé na lama, nós sabotamos intencionalmente a submissão de nossos pequenos interesses individuais ao ordenamento coletivo. O ordenamento coletivo nos iguala e, pelo visto, isso é insuportável – nosso modus vivendi nas ruas é um exercício sistemático de submissão da lei a interesses individuais.

Falar da violência no trânsito abre o horizonte, portanto, a um questionamento ético de nossa vida social e conecta cada um a uma questão coletiva que apenas coletivamente poderemos resolver. A violência se vence politicamente, como bem demonstrou Brasília e suas faixas de pedestre.

© Eduardo Biavati e biavati.wordpress.com, 2008/2013.

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Publicado por

biavati

Sociólogo, escritor, palestrante e consultor em segurança no trânsito, promoção de saúde e juventude.

31 comentários em “Violência no trânsito: como mudar comportamentos?”

  1. Muito inteligente este comentário, espero continuar recebendo matérias do autor, em minhas aulas farei referência a esses fatos.
    Obrigado.

    Voldinei João Sebben – Sananduva- RS

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  2. Gostaria de poder fazer sugestões a respeito de alguns pensamentos que considero positivos para melhoria da circulação e quem sabe da redução de acidentes. Como fazê-las?

    Aproveito para parabenizá-los pelas reportagens valiosas que vêm somar aos nossos conhecimentos. Grato.

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  3. Olá, Carlos,

    Obrigado pela participação.

    Você pode aproveitar esse espaço dos comentários para falar das suas idéias ou pode escrever um email [educacao.transito@terra.com.br]. A vantagem de expor aqui no blog suas idéias é que mais gente pode ler e comentá-las também, quem sabe trazendo outros aspectos da mesma questão – essa é a essência do blog: fomentar a troca de idéias, mesmo que sejam divergentes.

    Esses são os caminhos. Manda bala! Abraço.

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  4. Boa.

    Aproveitei e fui ao post ao qual remete o link problematização da sabotagem, que ainda não tinha lido. Primoroso. Cirúrgico.

    E este, da ética, me lembra outra pesquisa (de uma antropóloga da USP, se não me engano), que concluiu que todo brasileiro é um indivíduo sem preconceito, cercado de racistas.

    Victor, o ingênuo, elocubra: será que este “sou a favor da regra (… para os outros)” pode engendrar mais que “só” hipocrisia? Poderia ter um que de “enquanto ‘eles’ não começarem a cumprir as normas não serei eu o Mané a fazê-lo”?

    É claro que isto não redime ninguém (condicionar a ética, afinal, é outra hipocrisia…). Mas não estaria sinalizando que algo anda muito desequilibrado nessa economia comportamental?… Em suma: “Meu, só estou ficando com a parte ruim dessa tal de ética e democracia. Tenho que compensar de alguma forma…”

    E aí, tome jeitinhos. E tome malandragens Da Mattianas.

    Abs

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  5. Oi, Victor,

    Obrigado pelos elogios!

    Esse post sobre sabotagem das regras mereceria uma continuação contando as ficções mais loucas que as pessoas inventam para se isentar do flagrante da transgressão. Estava conversando outro dia com um antigo membro da JARI aqui em São Paulo e ele me contava que na alma de cada brasileiro há um contador de histórias oculto! Histórias inacreditáveis!

    Essa hipocrisia cotidiana em relação à regra – na verdade, expressão ainda de privilégios sociais e econômicos – não esconde uma vontade reprimida de seguir a regra, se outros o fizessem. Muito pelo contrário, ela exprime apenas o cálculo individual do benefício para si. O cálculo incorpora o ônus da penalização da conduta? Então, por que mudar?

    Isso é bem didático naquelas ótimas reportagens da ABC News que você me indicou: qual foi a referência da conduta das pessoas em NÃO soprar o bafômetro para ligar a igniçao do condutor que estava cumprindo pena por digirir alcoolizado? A referência foram as conseqüências graves (imaginadas, basta que sejam temidas) de sua ação perante o Estado, a Justiça e a Polícia. Não é exatamente uma preocupação humanista porque, como foi bem demonstrado, ninguém se importou com a chance de um acidente, de ferimentos, da morte. É só mesmo uma preocupação CIVIL.

    Não estou querendo dizer que as coisas se resolvam na base da paulada, nem que tenhamos chegado a esse ponto por falta de pulso! rarrararara Que saudades dos militares! rararararara Nada disso. É só que não há argumento nem ação educacional que suplemente a ausência ou a presença débil do Estado na regulação das relações no espaço público. É triste isso, mas não se compreenderia a ordenação da sociedade inglesa ou germânica sem os olhos poderosos e as mãos pesadas do Estado.

    Aproveite o embalo e leia outras coisas do blog! Nem são tantos textos assim e é um prazer ouvir sua opinião. Abraço, Biavati

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  6. Presença do Estado. Acho que é esse mesmo o ponto, Eduardo.

    Ainda que nas nações anglo-saxônicas (ou anglo-americanas, para ser mais preciso) essa presença seja mais intermediada por uma sociedade civil organizada (as poderosas associações de pais; ONGs, um “MADD”; agências reguladoras que, lá, são ponto.org…) do que pelo governo, tal qual o concebemos.

    Acho bastante pertinente – e muito facilmente perceptível – como, por aqui em Brasília, os níveis de observação das regras estão na proporção direta da percepção dessa presença do Estado, maior ou menor, em determinadas épocas ou lugares. E isto não se dá (apenas) com a identificação do policial/agentes de trânsito nas ruas, embora estes sejam indicadores óbvios e importantes. Um exemplo – gostaria de um dia poder fazer a comprovação quantificada disso!… – é ver como as faixas de pedestres mais apagadas (geralmente a das cidades-satélites ou de pontos mais distantes do Plano-maravilha) acabam sendo menos respeitadas do que as demais.

    E não creio que esse menor respeito seja por conta da menor visibilidade delas (pois a maioria sabe que ali tem uma faixa). Penso que esta faixa apagada indica, assim como a uma sinalização precária (ou uma falta de sinalização), uma calçada invadida ou uma calçada não existente, estão dizendo para os usuário das vias públicas que o Estado não está ali. Está se ocupando de algo – assuntos, lugares ou pessoas – mais importante. Portanto, em certos casos, parece haver um recado: façam vocês mesmos suas regras – o que, pela lógica, significa o seguinte: “impõe-se na via quem pode, obedece e acomoda-se quem tem juízo”. Como em um presídio.

    Por outro lado, a nossa faixa, onde funciona, continua sendo para mim um ícone fantástico, uma senhora quebra de paradigma, de uma dimensão simbólica única. Acho que devo a ela o fato de teimar em achar que – exagerando – o mundo tem jeito, e continuar a insistir em caminhos para o nosso trânsito.

    Ela parece, nessa experiência singular (exceção?), subverter a lógica do mero cálculo do benefício individual que falaste. Já tive para mim que nela o respeito à prioridade ao pedestre engendra o que seria o grande gol da educação (de trânsito ou não): a legitimação e decorrente introjeção de um valor; da internalização e aceite da idéia de que “faz sentido”, cumprir esse preceito. Veja bem: se o respeito a essa prioridade dependesse de um guarda, um agente de trânsito ou policial para garantir seu cumprimento essa lei já teria, há muito tempo, ido para o saco, já no primeiro governo que sucedeu Cristovam Buarque.

    Mesmo a cara de desaprovação de um pedestre indignado não seria suficiente para garantir esse cumprimento, pois aqui, as filas duplas nas comerciais não parecem constranger o infrator, xingado pelo infeliz que ficou esperando o folgado tirar seu carro.

    Eita. Este comentário já esta quase virando um “post” por si só. Paro por aqui…

    Abs,
    Victor

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  7. Oi Biavati,

    Estive fazendo algumas leituras e pesquisando a fundo a deixa desse seu post sobre mudança de comportamentos no trânsito. Cheguei aos vídeos de conscientização do Ministério dos Transportes da Republica Tcheca, da campanha “Não, Você paga!”, veiculada em 2005 na República Tcheca com o objetivo de reduzir em 50% o índice de acidentes em até 2 anos. São cinco vídeos de 2005 e tal campanha, de impacto visual forte, que simula cenas reais de acidentes de trânsito por imperícia, negligência ou imprudência, alcançou seus objetivos e continuou. Os vídeos estão em http://www.nemyslis-zaplatis.cz/
    Um convite para repensarmos como se faz campanha de trânsito no Brasil.

    Aliás, conferindo o texto da Resolução nº 314 nº. 314, de 8 de maio de 2009, sobre os procedimentos para as campanhas educativas de trânsito no Brasil no que se refere à sua elaboração, consta no item 2.5, a necessidade de “extremo cuidado com abordagens negativas ou que apresentem violência para evitar a anodinia.” Publiquei alguns vídeos em meus canais virtuais para debater com os visitantes e posso te dizer que, de todas as reações relatadas, nenhuma remeteu à leitura de a ausência de dor, uma espécie de anestesia da capacidade de impressionar com as imagens, banalizando-as ou promovendo a insensibilidade do público, que é a anodinia.

    Gostaria de saber sua opinião, Biavati, sobre o impacto desses vídeos com imagens impactantes. Não seria um excesso de cautela das autoridades que aprovam as campanhas de trânsito no Brasil? Não estariam, poupando o público brasileiro da realidade dos acidentes de trânsito e de suas consequências? Ou será que não se cogita esse tipo de propaganda no Brasil pelos custos de produção?

    Grande abraço.

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  8. Caro Victor,

    Quanta inspiração dominical! Caiu da cama inspirado profundamente pelo velho Durkheim? rarararara Regra boa é regra introjetada!

    Bom, o caso de Brasília desafia a imaginação sociológica mais delirante. A presença do Estado desencadeou uma mudança coletiva, a ausência dele, porém, não mergulhou tudo na reafirmação da cultura hegemônica de sabotagem das regras e, como você bem disse, na “invenção” da regra que nos convém (desde que, é claro, tenhamos posição e poder de impo-la aos demais). É um fenômeno extraordinário que ainda merecerá uma análise sociológica à altura. Pois bem, concordo contigo: a sociedade brasiliense introjetou uma regra que era nao apenas uma externalidade (como toda regra), mas uma aberração cultural: como assim para o meu carro para um pedestre passar?

    A revolução de Brasília, porém, não foi além disso. Por que não fomos capazes de generalizar essa conduta do respeito à faixa para outros contextos do trânsito? Faltou apenas fôlego político, calor da mídia, engajamento civil ou havia mesmo um limite à adesão às regras?

    Comentário que quase vira post é ótimo! Pode abusar. Abraço,

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  9. Olá, Márcia,

    Essa resolução expressa um entendimento do que é o trânsito; é apenas um modo de entender, existem outros. É uma declaração ideológica da primazia dos valores sobre a realidade. Decorre disso uma declaração estética que privilegia a positividade e elimina a violência e o conflito. O resultado de ambas escolhas está, por exemplo, na campanha “Sou Legal no Trânsito“, sobre a qual escrevi longamente no final do ano passado. Basta ler com atenção aos comentários do público para chegarmos à conclusão de que essa resolução é uma grande bogagem e, na verdade, um desserviço à sociedade. Ao menos, sabemos que ninguém está nem aí para a tal resolução: cada gestor público faz o que bem entende, na medida em que tenha recursos; ninguém pede benção ao DENATRAN.

    Eu não gosto do resultado da campanha tcheca, mas isso não tem a ver com frescuras de anodinia. Eles são violentos, mas não são elaborados. Procure ver os comeciais australianos e ingleses para perceber a diferença: nesses, a demonstração da violência serve ao objetivo de EXPLICAR, avançar COMPREENSÃO dos processos físicos e corporais que resultam em lesões e mortes. O objetivo é repassar uma informação e eu não vejo isso nem nas imagens nem no texto dos comerciais Tchecos. Eu não utilizaria nenhum deles em sala de aula com nenhum tipo de público.

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  10. Sério, Biavati?

    Caramba, e eu que estava me orientando pelas propagandas tchecas para um projeto de trabalho com os candidatos a primeira habilitação no Centro de Avaliação de Condutores e os condutores que precisam fazer a avaliação psicológica!

    Você poderia me explicar e comentar porque não aprova os comerciais tchecos? Como faço para acessar as propagandas australianas e inglesas?

    Amigo, que bom que consegui conversar sobre isso com vc a tempo! Até porque vc será um dos autores que vai fundamentar a revisão de literatura com base no teu livro Rota de Colisão.

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  11. Oi, Márcia,

    Os comerciais tchecos exigem uma LONGA explicação para dar sentido ao padrão de lesões demonstradas tão subita e violentamente. Ninguém precisa VER a lesão: as pessoas precisam entender a mecância, a magnitude da força e o contexto que gera a lesão. Nada disso está nos vídeos tchecos. O programa de segurança viária inglês se chama THINK. Eles têm um site com muitas informações e disponibilizam muitos (mas nao todos) comerciais produzidos nos ultimos anos. Os australianos do Estado de Victoria têm uma instituição chamada TAC. Eles têm um canal no Youtube, dá pra ver vários comerciais, mas não é possível baixá-los.

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  12. Providencial e “na mosca”.
    Obrigada por suas dicas valiosas, Biavati.
    Acho que isso explica o fato dos comerciais da campanha tcheca não estarem relacionados aos dados da coluna direita do seu blog.
    Agora começa o trabalho de dissecação.
    Muito obrigada mais uma vez.

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  13. Nas cidades do interior Biavati as condições são ainda piores, a falta de consciência das pessoas com relação ao seu comportamento no trânsito é incrível. Mas pelo menos aqui na cidade onde moro tudo já esta começando a mudar, a Autarquia Municipal de Trânsito esta sendo implantada, as pessoas estão tirando sua CNH e tenho certeza que no futuro tudo será melhor.

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  14. Olá Eduardo,

    Mato grosso do sul é muito considerado no rank relacionado com a violencia no trânsito, muito se fala mas pra se mudar um comportamento não é do dia para noite, necessita-se de muito empenho de ambos para que a mudança exista.

    Quando estou ministrando aula prática observo que são poucos que decidem pela mudança, pois isso é uma questão de decisão. Onde está a consciência?

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  15. Olá, Maricelia,

    Bemvinda ao blog e obrigado pelo comentário.

    A consciência pela mudança requer muito mais do que apenas informação.

    Veja o caso do consumo de tabaco. É insignificante a quantidade de fumantes que deixaram algum dia de fumar porque tomaram consciência de que o cigarro provoca graves danos à saúde. Não dá para comparar diretamente a situação no trânsito com uma dependência química como a causada pelo cigarro, mas o exemplo nos lembra de que nem tudo corre por vias racionais.

    É necessário um passo que está FORA do sujeito e que, nas sociedades contemporâneas, tomou a forma do exercício legítimo da força – a repressão do Estado. O parâmetro da decisão deve ser o exercício da força – a punição da conduta que é, na verdade, uma agressão ao interesse coletivo.

    A adesão espontânea, muito desejada e muito bonita, é uma ficção que não pertence à história real das sociedades humanas. Mas é possível estimular essa adesão, é possível esclarecer porque aderir à regra – sim, tudo isso é papel da educação. É só não nos esquecermos de que a educação pode muito, mas não pode tudo.

    Abraço,

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  16. Curto e fino.

    Talvez seja exatamente a consciência de que educação não é panacéia o que a tornará mais eficiente e objetiva, pois a libera da condição de sacerdócio.

    Ironicamente, é a negação da condição de redentores absolutos que redimirá os educadores…

    Abs,
    Victor

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  17. Olá, Victor,

    Mas lembre-se de que sacerdócio é algo coisa de devotos da saúde também. Somos todos redentores – uma elite que sempre usa a ciência como poder – prever e controlar, eis a missão. Todo discurso da ciência aspira a ser uma verdade. Em nome da verdade, porém, muita coisa pode ser feita.

    Eu acho que colocar em suspenso, questionar, refletir sobre essa condição de redentores absolutos é um passo quase terapêutico… mas não tenho tanta certeza de que isso redimirá alguém. Há vícios dos quais ninguém abre mão.

    By the way, veja depois o link de uma conferência muito interessante que postei no facebook.

    Abraço. Apareça sempre.

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  18. Entendo que a educação é um dos fatores mais importantes e como disseste, ela não pode fazer tudo, tem gente que só entende com repressao e se só entendem essa linguagem e ela que devemos utilizar para maus motoristas.

    Tenho visto alguns questionando os agentes de trânsito que autuam infratores, deveriam questionar os marginais do volante que colocam em risco a integridade de outros além da sua. Devemos apoiar os agentes para que punam os marginais do volante e nao questiona-los.

    Orientaçao se busca nas auto-escolas e através de outros meios. Agente não tem que abordar infrator e orientar “o que fazes está errado e nao deve acontecer de novo”. Ele até agradece e continuará a fazer errado, raras sao as exceçoes.

    É facil criticar, mas experimente trabalhar com pessoas e verá que muitos só entendem ou preferem remédio amargo pois se for doce nao darao importância.

    Educar e reprimir, providências que devem andar juntas. Se o trânsito é uma das causas que mais mata deve ser levado a sério pelos gestores e principalmente por nós, nós é que devemos melhorar e muito. Nao culpemos apenas os gestores. Atitude defensiva deve iniciar urgente por nós, devemos assumir nossos erros e melhorar muito em educaçao, nao só no trânsito, em muitas outras áreas.

    Voldinei Joao Sebben – Sananduva- RS

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  19. Olá, Voldinei!

    Fazia tempo que não lia um comentário teu aqui no blog! Obrigado por participar.

    Eu não concordo com sua posição de que o papel da fiscalização, e dos agentes da fiscalização, deve estar divorciado da educação ou da orientação dos cidadãos (orientar é educar, certo?). Toda abordagem da fiscalização é repressora porque ela é uma intervenção da autoridade pública na ação privada de alguém. Não importa se essa repressão é apenas verbal, uma advertência, ou se decorre dela uma autuação, implicando em penalidade financeira ou material.

    Mas nem toda transgressão e nem todo transgressor são iguais – aliás, como sabemos há muito tempo, há um grupo muito definido de transgressores em cada grupo social e eles seguem no trânsito com seus veículos impedidos e com sua CNH cassada… Para a maioria das transgressões cotidianas do trânsito, a presença e a intervenção verbal do agente bastariam. Ainda somos muitos os que se intimidam apenas com o flagrante da transgressão. Se, depois disso, a pessoa transgride mais uma e outra mil vezes, não é por isso que a fiscalização deve se tornar “amarga” e “dura”.

    Por último, eu não culpo apenas os gestores, MAS não esqueçamos que eles são pagos e investidos de uma autoridade EM NOME da coletividade para a garantia da segurança de todos. Somos todos responsáveis, mas os gestores da hora são MUITO mais responsáveis por cada violência que acontece no espaço público que lhes caberia zelar.

    Abraço,

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  20. Fala Eduardo.

    Seus dois últimos posts estão fantásticos. Pelo visto a versão 2011 promete.
    Considero que há complementação entre eles no sentido de que você problematiza a questão da disponibilidade de recursos para a educação para o trânsito e questiona sobre as possibilidades e os entendimentos dessa educação. Faz isso de forma objetiva e coloca desafios. Parabéns! Pela profundidade eles merecem reflexões separadas, o que não é o caso agora.

    Fico reticente com a capacidade de comunicabilidade, inovação, critização, problematização ou algo parecido, por parte das áreas de educação para o trânsito criadas pelos respectivos órgãos gestores. O que impera é o adestramento. Em geral esses órgãos não tem expertise em educação e vão na linha do “transitando legal” e um monte de mesmices que no máximo informam, mas não convencem. As alternativas seriam as de investir na rede formal de ensino e no 3º setor para que saiamos desse círculo vicioso e avançarmos?

    Outra questão. Surgiram aqui candidatos a encaminhar susgestões. A experiência de Brasília é bem disseminada. Quem sabe não apareçam outras experiências exitosas, sobretudo naqueles municípios que não tem a estrutura de trânsito formalizada (que você dá o corte dos municípios com menos de 100.000 habitantes), onde a proximidade de usuários e “autoridades” intervém nessa relação de impessoalidade das regras e de avaliação dos riscos. É aquela estória. O Código vale para o Brasil inteiro, mas a realidade da presença do Poder Público é dispare entre eles. Uma coisa é falar da necessidade do uso de capacete para o motociclista da cidade de São Paulo. Outra é tratar do mesmo tema para Redenção, sul do Pará. Também paro por aqui e não corro o risco de criar post.

    Grande abraço e muito sucesso em 2011.

    Marcos Evêncio.

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  21. Olá, Marcos!

    2011 começou quente mesmo! Já tenho outros 2 posts no caminho, mas antes eu resolvi reeditar antigos posts, enfatizando idéias centrais, alterando o estilo, tamanho de letras, ilustrações, links. Enfim, nada como rever os caminhos trilhados.

    Sim, eu não tenho dúvida nenhuma de que os posts (e os comentários, às vezes bem longos de leitores como você e das respostas que escrevo) mantêm uma consistência importante e alguns questionamentos recorrentes. De uma forma ou de outra, comentando uma campanha estrangeira, ou uma nova pesquisa, eu faço mesmo esse esforço de reatar os pontos.

    O adestramento impera, é claro, mas isso tem que mudar por uma questão de sobrevivência institucional. “Transitando legal” e outras bobagens e moralismos das pedagogas de plantão não resistirão muito tempo, pode apostar, ao menos no que depender de mim. Muito pelo contrário, esse desserviço à formação dos jovens deveria ser eliminado da prática da educação para o trânsito.

    O que você quer dizer com “candidatos a encaminhar sugestões”? Quais?

    abraço,

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  22. Biavati, meu ídolo. Pela 1a. vez retorno a uma resposta sua. Tenho o hábito de ler seus posts por completo, o que inclui comentários e respostas. Quando escrevi “candidatos a sugestões” foi a partir da leitura do comentário do Carlos Alberto Ferreira da Silva, que não conheço.

    Percebo que as pessoas que aqui escrevem em geral têm vivência na área, sejam como órgão gestor ou na área educacional. Dentro da linha de possibilidades, inclusive você termina alguns textos nos instigando sobre o que fazer, é que vejo abertura para as tais sugestões. Foi mais nesse sentido.

    Minha experiência é de órgão gestor. O discurso e a prática que predominam nessas instituições é a mentalidade de engenharia de tráfego, onde a educação fica instrumentalizada à otimização da circulação, que nos grandes centros significa o domínio do automóvel e o temor dos congestionamentos.

    A parte de educação fica setorizada e na maioria dos casos não se envolve com as áreas de projeto e de operação. Para complicar, essas áreas não dispõem de capital econômico, político e intelectual capazes de provocar a mudança, pois colocaria em questionamento a própria ação das áreas de engenharia.

    Vai aqui uma sugestão para reflexão: qual deveria ser o papel das estruturas de educação dos órgãos gestores?

    É isso. Grande abraço!

    Marcos Evêncio.

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  23. Olá, Marcos,

    Ídolo?!! Nem vem; não dá pra tanto, mas obrigado pelo elogio.

    Vamos lá.

    Eu provoco bastante os profissionais e o campo da Educação para o Trânsito em quase tudo o que escrevo aqui no blog. Às vezes, faço isso de modo bem agressivo e é bem intencional. A provocação é do tamanho da alienação geral desses profissionais, que não REFLETEM sobre o seu cotidiano, seus conceitos e muito menos sobre sua prática e, POR CONSEGUINTE, não conseguem dar um passo além na formação de um projeto POLÍTICO de autonomia nas estruturas vigentes dos órgãos de trânsito.

    Muito mais da metade de toda energia dos profissionais de educação é gasta todos os anos em sorrisos amarelos, umas caras de nada, uma postura humilhada, sempre mendigando algum orçamento – mendigando é a palavra certa. A história que se conta para quem olha de fora é que a educação é desprezada, que ninguem dá a mínima, que só interessa a fluidez, que é tudo politicada, ninguem está nem aí para a cidadania… é um pouco verdade, mas não seria melhor para o próprio umbigo? Me indique qual é o mínimo esforço de pesquisa, de leitura, de projeto, qualquer coisa mais inteligente que valesse a atenção dos “poderosos” de plantão?

    Então, para começo de conversa, eu acho que falta capital intelectual, e falta capital político e sem esse, me caro, nao há $$$$. Sem grana, sinto muito, não haverá autonomia.

    Bom, não tenho a solução para esse problema institucional e histórico, a não ser começar a pensar, o que não é pouco. Mas quem sabe a saída das Escolas Públicas de Trânsito, propostas pelo CTB decolem?

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  24. Ah, e sabem o que mais causa mortes no trânsito também??!!! Aquele pessoal que se bobear anda com celular até pendurado na, no…., bom, deixa pra lá. Mas enfim, já que querem tanto aumentar a arrecadação de impostos. Coloca multas altissimas para quem dirigir falando nessas “biroscas tecnológicas”. Mais fácil né???!!!! Pelo menos assim não aumenta impostos, e vai aumentar um “TANTÃO” a arrecadação, sem onerar ninguém. Pelo menos aqueles que fazem o certo.

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  25. Olá, Jupira,

    Bemvinda ao Blog. Obrigado pelo comentário.

    A questão é que multas altíssimas não resolvem nada e tampouco é objetivo da fiscalização de trânsito aumentar a arrecadação de multas. Tanto faz se a penalidade econômica custa monetariamente R$ 10 ou R$ 900 reais porque esse é apenas um componente da penalidade das transgressões de trânsito. Ninguém arrecadaria nada, aliás, se não houvessem transgressores. A “indústria da multa” é só outro nome para a “indústria de infrações”.

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  26. A engenharia sozinha não muda o trânsito. A fiscalização sozinha não muda o trânsito. A educação sozinha não muda o trânsito.

    A educação sozinha não muda o mundo, mas não há grandes mudanças que não passem por um processo educativo. Sem educação não dá.

    O trânsito é versátil e multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar. Sem o elo que une as diferentes áreas, o trabalho é árduo, mas é vão. A quem cabe o labor da interface?

    Onde está o erro da Educação para o Trânsito? No adestramento? Quem está apontando o erro? Quem é autoridade para jogar no lixo o trabalho de anos e invalidar a ação dos educadores? Quem é quem para apontar que outro alguém não pensa e não pensou durante todo esse período?

    Fazer recortes das experiências de outras nações, com outra realidade, outra cultura e outra história, não é solução que nos caiba. Diferentes públicos reagem a diferentes estímulos.

    Não estamos neste mundo para se adestrar às regras e normas, mas o que a fiscalização faz? Usa a punição para nos encaixar dentro de um pacote. Se a punição por si só resolvesse, já estaríamos numa sociedade mais evoluída.

    O que a engenharia faz? Intervenções no sistema viário para que as pessoas se moldem dentro das estatísticas que os validam, quando há.

    Que adianta corredores de ônibus, bilhetes de integração, calçadas mais largas, rampas de acesso, fiscalização eletrônica e uma imensidão de ações que só são compradas por uma elite acadêmica e tecnicista, cheia de soberba?

    As ações somente serão legítimas se houver o consentimento da sociedade, senão é tudo produto vão. De que vale alargar a calçada se as pessoas continuarem andando no meio da rua? Criar códigos e punir, se a infração persiste?

    Este é o ardor da Educação e em especial, da Educação para o Trânsito, falar com pessoas, de pessoas, lidar com um objeto que é um sujeito, dotado das mais vulneráveis nuances, não é uma massa igualitária, reagem num universo de dimensões.

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  27. Olá, Roberto,

    Obrigado pelo comentário amplo. Suscitar questionamentos é uma das funções primordiais do blog e de cada publicação, do contrário não haveria realmente sentido o trabalho de manter aberto esse espaço (não parece, mas é bem trabalhoso).

    Eu não tenho dúvida nenhuma do que está escrito, mesmo 4 anos depois, sobre a “educação para o trânsito”. Em nenhum momento está dito que essa educação é dispensável ou inútil – muito embora essa seja uma conclusão fortíssima de todos os organismos internacionais que lideram a “Década Mundial de Ação para a Segurança no Trânsito 2011-2020”. O que afirmo no texto é que a “educação para o trânsito” se conformou como uma prática inconsciente de sua função e lugar (sempre miserável) institucional de um sistema de gestão pública do trânsito, a serviço do adestramento dos cidadãos, sim, mas não apenas para as normas – para as normas que fundamentam a privatização do espaço público e a hegemonia dos veículos motorizados.

    Nada mais vazio do que invocar frases e idéias de Paulo Freire quando essa alienação mina, na origem, o poder crítico que a “educação para o trânsito” poderia desenvolver – poderia, mas de fato não o faz, porque não lhe cabe essa liberdade ou função, por mais que pronunciem o tempo todo os conceitos-chave de “mobilidade”, “cidadania” etc.

    A alienação a que me refiro é, por outro lado, uma operação moralista e ideológica que resume, quando não ignora completamente, a natureza estrutural, sistêmica e sociológica da violência no trânsito a um fenômeno individual, quase psicológico.

    Por fim, discordamos de que essa “educação para o trânsito” está aí para isso mesmo: formar o consentimento da sociedade e adestrar os sujeitos para a conformidade. Essa é justamente a missão fracassada, na minha opinião, a que se propôs tal educação e, quem sabe, revele precisamente as raízes de seu lugar sempre secundário, quase inexpressivo não apenas nas políticas públicas, mas, pior, na parcela que lhe cabe do recurso público (parcela ridícula que, apesar da lei, não chega a 0,5% do previsto, quando muito).

    Abraço,

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  28. Obrigado pela oportunidade de expor o que penso, este humilde educador. Já assisti palestras tuas e já tive a oportunidade de recebê-lo aqui na Prefeitura de Guarulhos/SP, enriquecendo nosso trabalho com suas considerações e amplos estudos.

    Talvez não soube me expressar muito bem, pois o papel da Educação é justamente o de formar pessoas críticas e autônomas, auxiliá-las a pensar por si próprias e não pela cabeça de outrem, a não aceitar as coisas como elas chegam a nós, a não aceitar ideias prontas e produtos acabados. É isso uma das inúmeras pérolas que nosso mestre Paulo Freire nos legou.

    Ensinar SÓ a fazer, é adestrar. Ensinar a fazer, a ter, a conviver, a ser, é educar. Os Quatro Pilares da Educação, disseminado pela ONU por meio da Unesco.

    Quando me refiro a consentimento da sociedade quero dizer que não adianta edificar para um grupo restrito de especialistas, pois a sociedade, a maior interessada, não entende e não participa porque não entendeu nada, tenho que alcançá-la.

    Consentimento da sociedade é quando ela aprova e participa das mudanças por opção e não por imposição, construindo sua própria história, não como mera espectadora do espetáculo da vida.

    Tenho orgulho de ver a mudança de atitudes em algumas pessoas que passam pelas nossas intervenções. Não mudamos a sociedade, mas a infinitésima parcela dela. E sei que as mudanças não se limitam a mudar atitudes, mas faz parte delas.

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  29. Biavat , gostaria do parecer do amigo sobre o projeto multa cidadão, ele está registrado e já conto com o apoio de uma emissora e Deputatos , gostaria da análise do amigo . Abraços

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  30. Eu ja dirijo há um bom tempo sempre tenho cuidado com o transito e sempre tento ser o mais prudente possível, nessa sexta-feira de hj quando eu ia com minha namorada no mercado fazer umas compras, durante a ida ao mercado numa área de convergência da pista um cara veio em alta velocidade e cortou a minha frente quase batendo o meu carro e não satisfeito ainda quis puxar discussão comigo e me ofender, ainda não satisfeito o homem quis colidir o carro dele com o meu me forçando a fazer uma parada brusca, machucando inclusive a minha namorada mesmo ela estando de cinto, nos deixando trêmulos e nervosos, inclusive fiquei com muito medo de voltar a dirigir me deixando sem condições de conduzir o carro.

    eu lhe pergunto, mesmo com tantas aulas e cursos de como se comportar no transito, como garantir a segurança de famílias no transito enquanto há pessoas que me pergunto se fizeram mesmo auto-escola e passaram sem ter comprado a carteira?, pois pelo que percebi hj e em muitas outras vezes as pessoas sentem a satisfação em estar fazendo o mal sem pensar nas conseqüências ou na vida de outras pessoas, pois o carro também pode ser considerado uma arma.

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