Há quatro anos nesta data, publicava nesse espaço um resumo e algumas reflexões sobre a interessantíssima pesquisa “O sonho brasileiro”. A pesquisa mirava esse grupo complexo e potencialmente transformador dos jovens adultos, com idade entre 18 e 25 anos e trazia pistas sobre uma descoberta: a identificação de um tipo de jovem, articulado e articulador, consumista de valores e símbolos de seu tempo e, também, metamorfoseador de tudo – um “jovem-ponte”. Diante dessa juventude contemporânea e desse sujeito dialógico e “ponte”, questionava o distanciamento das estratégias da educação para o trânsito para alcançá-la. Relendo a publicação hoje, tenho certeza de que distância ainda é imensa e está intacta; talvez porque pouquíssimo tenha sido feito para reduzi-la, muito provavelmente porque a distância não é apenas geracional, mas temática. Queríamos falar de trânsito e de segurança, e eles, ao que parece, falam hoje de mobilidade, de outra cidade, de um espaço que tem que ser ocupado e transformado.
A faixa etária de 18 a 24 anos é um centro gerador de influência da sociedade global de consumo. Tudo o que transpira desses jovens impacta cada vez mais o conjunto da sociedade – os mais novos aspiram a ser como eles, os mais velhos são por eles inspirados. A juventude tornou-se uma síntese dos tempos de hiperconsumo, uma espécie de estado simbólico insaciável que invadiu a infância e avançou léguas sobre a vida adulta.
A educação para o trânsito deveria dedicar atenção à dinâmica dessa juventude porque concentram-se nesses anos a criação e a disseminação de novas idéias, a experimentação de novos comportamentos, a emergência e a dissolução de estilos de vida. É um período riquíssimo sob muitos aspectos e, também, de riscos máximos de morte e lesões no trânsito.
Ao invés de tratá-la como um caso perdido que um bom “trabalho de base” resolverá um dia, poderíamos começar nos perguntando, por exemplo, quais são os sonhos dos jovens brasileiros hoje. A sondagem de suas representações de futuro – o que eles sonham para suas vidas e o que eles sonham para o Brasil – talvez ajude a repensar como pretendemos engajá-los em condutas de segurança no trânsito e torná-los disseminadores de novos hábitos de saúde.
Os sonhos da primeira geração de brasileiros nascidos em um mundo hiperconectado são a matéria da pesquisa “Sonho Brasileiro”, desenvolvida pela Box1824 – uma agência paulistana especializada no mapeamento de tendências e “consumer insights” de, como o nome diz, jovens de 18 a 24 anos.
Armados de uma metodologia complexa, os pesquisadores da Box foram a campo dar corpo a um perfil de jovem, denominado “transformador”. Esse é um jovem que já está pensando o país, elaborando idéias sobre os papéis que sua geração pode desempenhar no futuro e, mais do que pensando, já atua no presente nas mais diversas organizações não-governamentais, voluntárias ou não, predominantemente religiosas ou ligadas à produção cultural, e às vezes em grupos completamente desinstitucionalizados.
Quem age pelo coletivo se vê como um ator responsável, é otimista porque já vê o resultado concreto de suas ações e deriva seu poder transformador de uma característica principal: ele transita por mais grupos do que a média dos jovens, catalisa idéias e as redistribui, conectando redes e pessoas, gerando um novo tipo de influência que se dá pela transversalidade. Esse jovem “transformador” é uma ponte – a principal descoberta da pesquisa, segundo a Box – ele é o nó de uma rede de formação de novos valores e novas atitudes.
Esse perfil de jovem não é uma hipótese teórica. Ele é um pressuposto fundamental da pesquisa que foi a campo conhecê-lo de perto, ouvi-lo, colocá-lo para debater questões diversas com seus pares. A etnografia desse mergulho (que mistura várias técnicas qualitativas) é o ponto de partida, então, da mensuração quantitativa da influência desses jovens. Seus discursos e práticas transbordam, como uma tendência, para o restante da população jovem?
Sonhos com pés no chão
Essa é uma geração que sonha com formação profissional e emprego, mais do que aspira à casa própria ou à posse de bens. Cursar o ensino superior é um desejo de 79% dos jovens, não apenas porque todos sabem que o mercado de trabalho exige bem mais do que o ensino médio, escolaridade de 2/3 dos jovens pesquisados – é também porque eles buscam um novo sentido para o trabalho que conecte a realização pessoal à profissão dos sonhos.
O sonho individual desses jovens rima trabalho E felicidade: “Aquele curso realmente é promissor, eu acho que tu sais ganhando uma paulada. Ao mesmo tempo, de que adianta? Tu vais estar te prostituindo se tu não estiveres fazendo aquilo que tu gostas?” Os jovens querem uma carreira e buscam dar relevância social ao trabalho por meio da profissão que escolheram e isso redefine, de acordo com a Box, a noção de sucesso dessa geração. Não é um sucesso que se mede pelos ganhos monetários apenas: “Dinheiro é importante, só que a questão é como ganhar, né? É como achar um sentido pra ganhar ele. Todo mundo quer achar um propósito claro: ganho esse dinheiro fazendo uma coisa que eu gosto, que faça no mínimo sentido.“. Para 43% dos jovens não há problema em ganhar muito dinheiro contanto que sua origem seja honesta e para 31% deles o problema não é o dinheiro em si, mas o o mal uso que as pessoas fazem dele.
É dessa plataforma individual que se lançam os sonhos coletivos. A pesquisa agrupa os sonhos de Brasil em duas linhas: sonhos de reparação, que se referem ao resgate de dívidas acumuladas ao longo da história (menos violência, menos injustiça, menos corrupção) e sonhos de realização, que se referem ao acesso igualitário de oportunidades para todos (mais emprego, mais igualdade, mais educação).
Como se pode constatar, os sonhos de Brasil desses jovens não têm nada de simples, muito pelo contrário, mas isso não significa que estejam dispostos a dar a vida por eles. Nada mais fora de moda do que morrer por uma causa e posar de mártir. É um pensar em si mesmo que inclui pensar no bem estar coletivo: 59% dos jovens concordam que têm que pensar EM SI antes de pensar nos outros e 77% deles concordam que seu bem estar individual depende do bem estar da sociedade a que pertencem. No discurso dos jovens, não há, portanto, antagonismo entre sonhos pessoais e de país: todos vão bem SE cada um estiver bem, mas só é possível estar bem SE todos estiverem também.
A realização pessoal dá a medida do tamanho dos sonhos coletivos: “eu tento não ter sonhos inalcançáveis (…)“. O que seriam os sonhos inalcançáveis? As utopias de gerações passadas, aquelas de seus pais, que tinham sonhos “grandes demais, que acabaram nunca acontecendo e gerando frustração”, de acordo com a análise da Box. O pragmatismo dessa geração que sonha o possível consiste em calibrar o desejo de transformação da realidade pela disponibilidade da pequena ação individual.
Nada de revoluções, nada de rupturas radicais – “eu não sonho com nenhuma revolução de parar a cidade”. Esses jovens partilham a crença de que cada um, na medida de suas possibilidades, por meio de pequenas ações, no seu dia-a-dia, pode fazer a diferença: “cada vez eu vejo mais pequenas ações positivas. E quando isso for maior e maior, vai contagiar mais gente. E a partir daí, consequentemente, as outras coisas vão ser melhores, sabe? É nisso que eu acredito.” Essa filosofia de ação política – uma filosofia de “formiguinha”- tem alta concordância entre os jovens pesquisados: para 90% deles a transformação da sociedade acontece aos poucos e 92% concorda que essa transformação é a soma de pequenas ações do dia-a-dia.
Drivers
Para falar de seus sonhos, os jovens expressam um modo de pensar, de agir e de se relacionar no mundo e cada uma dessas expressões guarda um elo com movimentos globais muito mais amplos (chamados de “drivers”). De acordo com a Box, os “drivers” são grandes forças de natureza econômica, política, social e cultural que atuam como motores do pensamento e da ação não apenas dos jovens mas de sociedades. Os “drivers” estão além das consciências dos indivíduos. A pesquisa elege 3 “drivers”: o não-dualismo, as micro-revoluções e a hiperconexão. É uma pena que não seja possível descobrir a referência teórica ou empírica da escolha. De qualquer forma, se os jovens de 18 a 25 anos são “antenas” privilegiadas de um tempo histórico, vale a pena perceber como eles captam o recado dos “drivers”.
Não-dualismo
Ao invés da disputa, a aliança; no lugar do confronto, a continuidade. A cultura do “e” no lugar do “ou” é uma nova maneira de PENSAR o mundo. O não-dualismo remete a um mundo não bipolarizado, a uma mentalidade de integração, à cultura do diálogo. “Bater de frente” não é inteligente, de acordo com os jovens-ponte, que prezam as articulações colaborativas e pacíficas: 81% dos jovens concordam que a união de pessoas que pensam de forma diferente pode transformar a sociedade. “E aí, se for para fazer uma batalha violenta contra sistema, eu prefiro costurar por fora, né? ”
Micro-revoluções
Múltiplas revoluções silenciosas transformam o mundo de forma lenta e gradual definem uma nova maneira de AGIR. Eles acreditam que a transformação da realidade é uma ação de pessoas reais. A política é vista como uma atitude em todo lugar, desde a escolha da bicicleta como meio de transporte ao não uso de sacolas plásticas, e não mais como exclusiva do sistema democrático formal, organizado em torno de partidos: “Eu acho que não acredito em mais ninguém me representando, por isso não me encontro em nenhum partido, por isso me sinto afastada.” O jovem-ponte não se vê na política “de Brasília” e sabe que sua atuação social não depende mais necessariamente de uma institucionalização e de uma filiação ideológica rígidas.
Hiperconexão
O terceiro “driver” dos sonhos desses jovens diz respeito à revolução das comunicações humanas produzida pela internet. Essa é uma revolução digna de um R maiúsculo. Ela é um elemento estruturante dos valores e das crenças dos jovens-ponte. As micro-revoluções cotidianas dependem dessa alavanca que promete voz e ressonância ilimitadas, que rompe barreiras físicas, que amplifica pequenas ações. A hiperconexão é uma condição da desinstitucionalização desse jovens e de sua liberdade de engajamento em múltiplos projetos e grupos de ação temporários. Ela é o veículo, também, de novos vínculos colaborativos – “a gente se junta“, mais horizontais, menos hierárquicos e mais abrangentes. A hiperconexão estabelece o primado do tempo presente, a vivência do processo ao invés de uma finalidade futura.
O estudo da Box1824 não esconde a euforia com descoberta de que os “jovens-ponte” irradiam sua influência para grupos mais amplos de jovens. As afinidades de idéias, as concordâncias de opiniões, a convergência dos sonhos individuais, as projeções comuns de futuro para o país, tudo parece indicar que os modos de pensar, de agir e de se relacionar dos “jovens-ponte” representam uma tendência que vem marcando uma geração.
Nada poderia ser mais antagônico a essa tendência, porém, do que o discurso dominante da segurança e da educação no trânsito no Brasil. O discurso da segurança pronuncia mandamentos: “use o cinto de segurança”, “obedeça o limite de velocidade”, “use o capacete”, “não dirija depois de beber”. É sempre um discurso que se impõe verticalmente, de cima para baixo. Não está dada a possibilidade de problematização, mas, então, também está eliminada a possibilidade de comunicação com essa geração de jovens que busca o diálogo, que rejeita hierarquias, que reivindica relações mais horizontais.
É claro que podemos pensar que não há nada a ser discutido: os comportamentos exigidos são perfeitamente legítimos porque derivam de uma norma coletiva. Esse bando de marmanjos tem mais é que obedecer, ponto. A transgressão sistemática e generalizada da norma indica, porém, que é bem baixa a percepção de sua legitimidade: “não, não vou soprar bafômetro“, ouvimos novamente de dois jovens causadores da morte de dois outros nas noites de São Paulo.
A questão é que impor a repressão necessária para tanta obediência demanda recursos que serão sempre insuficientes – esse é um limite evidente, por exemplo, das operações de fiscalização do beber e dirigir que vem se reproduzindo em vários Estados, a partir da excelente experiência carioca. Não seria melhor contar com a participação dos jovens e a mobilização de seu poder de conexão para sustentar uma cultura de segurança a longo prazo?
Estamos prontos para lançar pontes para esses jovens?
© Eduardo Biavati e biavati.wordpress.com, 2008/2015.
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Parabéns, cada vez mas, sou sua fã! abraços
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Não-dualismo? Micro-revoluções? E se não der para “costurar por fora”?
Excelente contraponto o texto do filósofo Vladimir Safatle, publicado hoje, 09 de agosto, no jornal Folha de São Paulo.
VLADIMIR SAFATLE
Maria Antonieta
Em 2006, a cineasta Sofia Coppola lançou um filme sobre Maria Antonieta. Ao contar a história da rainha juvenil que vivia de festa em festa enquanto o mundo desabava em silêncio, Coppola acabou por falar de sua própria geração.
Esta mesma que cresceu nos anos 1990.
No filme, há uma cena premonitória sobre nosso destino. Após acompanharmos a jovem Maria por festas que duravam até a manhã com trilhas de Siouxsie and the Ban- shees, depois de vermos sua felicidade pela descoberta do “glamour” do consumo conspícuo, algo estranho ocorre.
Maria Antonieta está agora em um balcão diante de uma massa que nunca aparece, da qual apenas ouvimos os gritos confusos. Uma massa sem representação, mas que agora clama por sua cabeça.
Maria Antonieta está diante do que não deveria ter lugar no filme, ou seja, da Revolução Francesa. Essa massa sem rosto e lugar é normalmente quem faz a história. Ela não estava nas raves, não entrou em nenhuma concept store para procurar o tênis mais stylish. Porém ela tem a força de, com seus gritos surdos, fazer todo esse mundo desabar.
Talvez valha a pena lembrar disso agora porque quem cresceu nos anos 1990 foi doutrinado para repetir compulsivamente que tal massa não existia mais, que seus gritos nunca seriam mais ouvidos, que estávamos seguros entre uma rave, uma escapada em uma concept store e um emprego de “criativo” na publicidade.
Para quem cresceu com tal ideia na cabeça, é difícil entender o que 400 mil pessoas fazem nas ruas de Santiago, o que 300 mil pessoas gritam atualmente em Tel Aviv.
Por trás de palavras de ordem como “educação pública de qualidade e gratuita”, “nós queremos justiça social e um Estado-providência”, “democracia real” ou o impressionante “aqui é o Egito” ouvido (vejam só) em Israel, eles dizem simplesmente: o mundo que conhecemos acabou.
Enganam-se aqueles que veem em tais palavras apenas a nostalgia de um Estado de bem-estar social que morreu exatamente na passagem dos anos 1980 para 1990.
Essas milhares de pessoas dizem algo muito mais irrepresentável, a saber, todas as respostas são de novo possíveis, nada tem a garantia de que ficará de pé, estamos dispostos a experimentar algo que ainda não tem nome.
Nessas horas, vale a lição de Maria Antonieta: aqueles que não percebem o fim de um mundo são destruídos com ele. Há momentos na história em que tudo parece acontecer de maneira muito acelerada.
Já temos sinais demais de que nosso presente caminha nessa direção. Nada pior do que continuar a agir como se nada de decisivo e novo estivesse acontecendo.
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Fala Eduardo, tudo bem? Suas mensagens são maravilhosas: atuais, criativas, instigantes. Uma ressalva. Meu amigo, quando a conversa esquenta você termina! Isso não é justo! Lembro-me de outro post em que abordava mensagem americana mais ou menos assim: “se você beber e dirigir será preso”. Não há ponte.
O Brasil tem muitas normas, muitas punições previstas. O próprio CTB é muito detalhista. Não se consegue cumpri-lo na íntegra. Essa questão de que se a norma é desrespeitada constantemente remete para possível revisão de sua formatação é algo a ser pensado. Uma coisa comum, por exemplo, é a insistência em se utilizar o celular ao dirigir. Imagina como isso repercute nas inúmeras realidades Brasil afora?
Como ele é muito detalhista, a possibilidade de gerar multas é alta. Por suas vez, os valores ds multas também são altos, o poder fiscalizador não tem força política para fazer cumprir o CTB e daí “alivia”. Mesmo porque a população também percebe que parte do discurso fiscalizador esconde outros, que não são republicanos.
A cultura de segurança no trânsito envolve jovens e não jovens. O grande diferencial dos jovens talvez seja sua mente hiperconectada, o que possibilita a formação e propagação de redes; de aceitação e divulgação de informações, convencimentos, agilidade e capilaridade.
Voltando ao post anterior, de se trabalhar valores e princípios éticos, acredito também que um grande dificultador seja nossa dificuldade diante de dois itens cada vez mais escassos: o tempo e o espaço. É visível que a cada dia temos menos espaços públicos para compatibilizar tantos interesses pelo seus usos, assim como o tempo de deslocamento altera diretamente com o aumento de veículos nas vias. Discutir ética, valores, segurança quando se trata de bens escassos, o desafio é ainda maior. Temos de encontrar soluções rápidas para desobstruir as ruas e estradas. Precisamos aprofundar mais o entendimento dessas pontes e sermos criativos como você nesse interatividade com os jovens. Parabéns. Grande abraço. Evêncio.
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Oi, Marco!
Eu terminei por esgotamento! Esse post não foi fácil. Levei quase um mês remoendo o longuíssimo relatório da pesquisa do “Sonho Brasileiro”.
Insisti em comentar a investigação em um post para que mais pessoas tivessem conhecimento dos resultados e para provocar, como sempre, a acomodação e a apatia que reinam no parco diálogo com esses jovens.
A pesquisa fareja uma nova tendência entre esses jovens, novos modos de pensar e de agir. Legal. Concordo que há algo novo que vem se consolidando há vários anos; discordo, porém, da interpretação do que é esse “novo” e da euforia deslumbrada com a positividade dessa geração – eu jamais analisaria positivamente essa política da “micro-revolução”. Veja bem as explosões dessa semana em Londres, veja o que vem acontecendo na Síria, no Chile, na Espanha, na Líbia e o que aconteceu no Egito. O micro-revolucionário se revolta contra a sacola plástica mas pode acabar massacrado ou sair correndo se tiver que lutar por qualquer coisa mais importante. Enfim, pensei que a pesquisa merecia o trabalho de peneira e uma reflexao sobre o trânsito.
Podemos abolir essa frescura de “pontes”, é claro, se tivermos a força de impor a repressão sistemática e rigorosa das condutas, como fazem os norte-americanos. Não temos, no entanto, essa força nem acho que esse é o melhor caminho – certamente não é o único. Eu acho que dependemos desse poder de mobilização em rede dos jovens e da disseminação entre eles de hábitos de segurança, mas não chegaremos até eles sem abrir o debate e reunir argumentos suficientemente convincentes. Não há outra forma de construir a legitimidade da norma com essa galera a não ser pelo diálogo.
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Os adolescentes de hoje “desejam pequeno” ou estarão eles apenas perseguindo um ideal de autocontrole? Esse é o tema do novo artigo de Contardo Calligaris (Folha de São Paulo, 11 de agosto).
Calligaris manifesta um incômodo que ele vem abordando há vários anos e que emerge imediatamente da leitura da pesquisa do “Sonho Brasileiro”: os jovens hoje parecem sonhar com projetos muito “razoáveis”, se não desanimadores e quase resignados. Na pesquisa da Box, os sonhos dos jovens não são “razoáveis”, porém: são grandes sonhos de transformação pessoal e da sociedade. A política de realização desses sonhos – a micro-revolução – é que é mesquinha e resignada, “cagona” como se dizia antigamente. Para Calligaris não há a idealização de um descontrole (que toda utopia verdadeira engendra) e que embalou, por exemplo, muitos dos sonhos revolucionários dos anos 1960. Hoje, ao contrário, como os vampiros vegetarianos da saga “Crepúsculo”, essa geração parece ter em alta conta a disciplina do desejo, um desejo heroicamente contido num exercício de autocontrole (cuja contraforça é, como vimos, a primazia dos projetos de vida individuais, da formação e da carreira: todos vão bem se eu estiver bem).
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Muito obrigado!
Bem legal essa idéia de jovens-ponte, apesar da pouca sustentação empírica. Você fala de onde?
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Republicou isso em Projeto Trânsito na Escola.
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