Hipótese natalina sobre um balão furado

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um Brasil na Kombi

Dezembro é tempo de soluços de segurança viária – novas campanhas, novas operações de fiscalização, mais radares, mais bafômetros, e até algum rebuliço legislativo.

O bolero da hora envolveu o anúncio de que airbags e freios ABS, novos itens de segurança obrigatórios nas carroças, digo carros, nacionais, não valeriam para todos os veículos fabricados a partir de 1o de janeiro de 2014, conforme acertado em março de 2009. É o que defendeu o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, para surpresa geral e deleite de todos os meios de comunicação.

Não houve editorial que tenha perdido a oportunidade de apontar a completa falta de sentido ético e econômico na intenção ministerial, cavando um pouco mais fundo o descrédito geral do “comandante” da economia nacional.  

Em meio a muita indignação e perplexidade, tudo se resolveu em menos de uma semana, ficou o dito pelo não dito, e as manchetes estamparam o grande recuo do governo.

Recuo? Assim como dois passos atrás?

Vamos considerar a hipótese, nada remota nem absurda, de que o “Governo” NUNCA afirmou que adiaria airbags ou abs. O tema inexistiu para o “Governo”, exceto para um único dignatário que, aliás, JAMAIS teria poder para adiar coisa alguma.  A “ameaça” poderia ter emplacado momentaneamente, mas eu duvido muito que alguém no ministério da fazenda foi tão boboca assim de imaginar que ninguém perceberia nem levantaria a voz. Não acho que esse é um jogo de gente ingênua nem de principiantes. Reparem que ninguém viu, nem mencionou, uma portaria ou qualquer ato semelhante que transformasse o palavrório do boquirroto em fato consumado. Podia ter colado, é verdade, mas duraria pouco o atropelamento das resoluções de 2009 do CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito). 

Reparem, também, que o “Governo”, como a imprensa gosta de dizer, ignorou completamente o dito: ninguém tomou conhecimento, ninguém comentou, nenhuma declaração pública, nem da Presidenta, nem da Casa Civil, nem do ministro das cidades, nem da saúde, nem da justiça, nem dos transportes.

Por isso,  pode bem ser um equívoco concluir que o “Governo” recuou. Recuou do que? 

De modo que demonstramos força, a sociedade civil que se organiza, e certamente reforçamos nossas alianças com os meios de comunicação, unânimes em seus poderosos editoriais, mas vai uma boa distância em concluir que “vencemos” uma batalha porque não houve batalha alguma; ao contrário, o episódio demonstrou que o núcleo de poder central do “Governo” está, como sempre esteve, alinhadíssimo com o avanço da “Década Mundial de Ação pela Segurança no Trânsito”. É uma hipótese.

para o lixo da história

melhor morrer de acidente de trânsito do que na miséria

pensamento econômico sintético de certo ministro da fazenda do Brasil em 2013

d’après Tutty Vasques, hilário, hoje no Estadão

Alô! Alô! Carnavalescos e foliões!!

Entrudo, de Jean-Baptiste Debret (1768-1848Como é de conhecimento geral da Nação, a Presidente Dilma Rousseff sancionou, sem vetos, no dia 20 de dezembro de 2012, o projeto de lei que tornou mais rígidas as regras para a “Lei Seca”.

O principal ponto do texto da nova “Lei Seca” é a ampliação das possibilidades de provas, consideradas válidas no processo criminal, de que o condutor esteja alcoolizado. Além do teste do bafômetro ou do exame de sangue, passam a valer também

“exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova admitidos em direito”.

De acordo com a nova lei, o crime não se define mais apenas pela identificação da embriaguez Continuar lendo Alô! Alô! Carnavalescos e foliões!!

Isto é uma regra

Deveríamos celebrar o importantíssimo avanço da introdução da obrigatoriedade de uso dos mecanismos de retenção de crianças nos carros; mas só temos a lamentar a irracionalidade tecnocrática e esse espírito rococó, sempre pronto a torcer os fatos em nome de privilégios e excessões.

Queríamos a segurança das crianças, ganhamos um labirinto que inviabiliza a universalidade de qualquer regra.

Clique na imagem, amplie, arrepie-se


Infográfico Simon Ducroquet/Folhapress 08/09/2010
Infográfico publicado pela Folha de São Paulo, Cotidiano, em 08/09/2010 Simon Ducroquet/Folhapress

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17 anos. Ora, o que são 17 anos?

airbag deployment Nosso subdesenvolvimento nem sempre é uma coisa ruim.

Recolhidos a uma posição periférica em termos científicos, culturais e econômicos, temos a sorte de assistir ao sucesso ou fracasso das inovações tecnológicas d’além mar com tempo bastante para tomar uma decisão bem fundamentada, bem filtrada, depurada mesmo, sem essa de maria-vai-com-as-outras. Estamos sempre muitos passos atrás e isso nos permite amolecer os rigores, arredondar as formas, adocicar a polpa das idéias. Que boa coisa!

Vejam só o caso dos airbags. Em 1993, quando se iniciaram os trabalhos da Comissão Especial, na Câmara dos Deputados, que daria forma ao futuro Código de Trânsito, airbags eram uma revolução saída dos laboratórios da Volvo Sueca e da Mercedez-Benz. Coisa de carro de luxo, obviamente. Como mal usávamos cinto de segurança por aqui, pensar em airbag como equipamento de segurança obrigatório soava bem estranho e, assim, a idéia morreu cedo nos debates.

Em poucos anos, o equipamento inovador já havia se disseminado pela indústria automobilística mundial e, em 1999, tornou-se ítem de série obrigatório nos carros norte-americanos, depois de anos de teste e pesquisa patrocinados pela poderosa National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA).

Começamos o novo milênio descobrindo que os airbags eram sensacionais, que eles realmente suplementavam a segurança proporcionada pelo uso do cinto de segurança, que eles reduziam com grande eficiência lesões faciais e de cabeça – coisa de primeiro mundo!, se dizia na época. Mas para quê sair por aí imitando europeus, japoneses e americanos? Quem éramos nós para arcar com o custo altíssimo de tanta tecnologia?

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