Educar para a segurança nas ruas: um projeto para os novos tempos da mobilidade urbana

Essa tem sido uma aventura particular nos últimos tempos – e que aventura não se torna deliciosa ao lado do Ziraldo? Educar para o trânsito ficou pequeno ao lado de quem educa para a rua e para a cidade inteira. Eis o projeto que criamos com a Editora Melhoramentos.

transito.escola-2014-para png.011Para saber um pouco mais, visite a página dedicada ao projeto.

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Ciclistas em rota de colisão – reloaded

No dia 14 de janeiro de 2009, uma ciclista, Márcia Regina, morreu atropelada na avenida Paulista.
Ciclista experiente, ela ocupava o lugar correto na via, o mais à direita possível, quase rente ao meio-fio, seguindo na direção do fluxo dos veículos. Não foi o bastante, porém, para escapar de um ônibus que trafegava justamente naquela faixa mais à direita. Ela foi derrubada e terminou esmagada pela roda traseira do coletivo.

No dia 02 de março de 2012, três anos depois de Márcia Regina, outra ciclista, Juliana Dias, morreu praticamente no mesmo local da primeira, na mesma avenida, também massacrada por um ônibus coletivo.

Para as autoridades municipais paulistanas, a nova tragédia foi como um soluço estatístico: a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) tratou de tirar o corpo fora rapidamente e lembrou orgulhosa que São Paulo nunca foi tão SEGURA para os ciclistas. Aos números: em 2010, 49 mortes, em 2009 foram 61 mortes; e 93 ciclistas perderam a vida no já distante 2006. Donde se conclui que… o que mesmo? Nada. Ao menos nada que saibam dizer os gestores da segurança viária na cidade. Morreram menos ciclistas porque choveu muito nos últimos verões? Não me digam que morreram menos ciclistas porque há maior gentileza nas ruas paulistanas. Terá sido porque há mais ciclistas zanzando na cidade? Mais gente pedalando reduz a mortalidade da gente pedalando? Ou será que é tudo reflexo da promoção tão mercantil e simpática quanto inócua das ciclofaixas de lazer dos fins de semana e feriados?

A tragédia inaceitável expõe mais uma vez a omissão gigantesca do Poder Público, em São Paulo e em quase todo o país, em cuidar dos cidadãos mais vulneráveis. Pedestres e ciclistas vivem em rota de colisão – e com eles vai junto muito de nossa civilidade. Cada um que tomba grita que vivemos em cidades hostis, desiguais e desumanas.

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Violência no trânsito: como mudar comportamentos?

Em 2009, a ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) promoveu um seminário intitulado “Desafios para o trânsito no Brasil”, realizado em Campo Grande/MS.

Nem precisamos lembrar que não são poucos e é claro que a educação para o trânsito estava mais uma vez lá, na velha lista dos “A FAZERES“, sempre incomodada, acossada com uma velha cobrança:

“e aí?

Vão fazer o que com a violência no trânsito? Dá pra contribuir? Como mudar os comportamentos?”
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Violência sobre duas rodas. Para não entender

As motocicletas revolucionaram o trânsito no Brasil nos últimos 20 anos e inauguraram um novo quadro de violência na circulação urbana do qual ninguém escapa, nem mesmo se fugir para Ji-Paraná, nos confins de Rondônia, já metida na selva amazônica. Há motos na selva? Sim, só há motos em Ji-Paraná. Lá, acidente de moto já é sinônimo de acidente de trânsito. Nem considere Mossoró, no Rio Grande do Norte, como alternativa – 80% da frota de lá é feita de motos.

De 1996 a 2006, as mortes de motociclistas cresceram estrondosos 2.000%, de acordo com os dados do SUS. Os acidentes envolvendo Continuar lendo Violência sobre duas rodas. Para não entender

Ciclistas em rota de colisão

No vento e na terra, 1991. Iberê Camargo
No vento e na terra, 1991. Iberê Camargo

No dia 14 de janeiro, uma ciclista, Márcia Regina, morreu atropelada na avenida Paulista.

Ciclista experiente, ela ocupava o lugar correto na via, o mais à direita possível, quase rente ao meio-fio, seguindo na direção do fluxo dos veículos. Não foi o bastante, porém, para escapar de um ônibus que trafegava justamente naquela faixa mais à direita. Ela foi derrubada e terminou esmagada pela roda traseira do coletivo.

O triste caso ganhou repercussão na imprensa, para a qual contribuí com uma entrevista para o jornal Folha de São Paulo. Leia a entrevista, antes de prosseguir. As opiniões ali causaram alguma polêmica, e até uma certa revolta, entre os cicloativistas – uma comunidade realmente ativa na defesa entronizada da bicicleta.

Como nem sempre o que se escreve é o que se lê, vou deixar claro que:

  • Não amo carros, não amo motos,  nem defendo que as cidades sejam o reino da locomoção motorizada. As cidades foram REconstruídas no Século XX para o livre trânsito dos carros – mas isso foi uma OPÇÃO política, aqui e em toda parte; outros caminhos eram possíveis.
  • Não odeio bicicletas, muito pelo contrário. Aliás, não conheço um único ser humano que odeie bicicletas; conheço muitos, porém, que não aprenderam a pedalar, mas gostariam, tenho certeza. A quem interessar, pedalo desde os 5 anos de idade. Cresci indo para a escola e, mais tarde, para o trabalho, em Brasília, todos os dias pedalando. Tenho uma GT full suspension, já um tanto velha-de-guerra, que eu adoro, mas só uso fora de São Paulo, onde vivo hoje. Minha vida de ciclista morreu nessa cidade, mas sobrevive em qualquer outra, quando tenho oportunidade de sair fora.
  • Trabalho com educação para o trânsito há mais de 15 anos. Acredito na educação, portanto, e tenho certeza de que a educação pode realizar verdadeiras revoluções, mas não pode tudo. Imaginar que partilharemos as ruas promovendo a gentileza, o respeito mútuo, a civilidade, a solidariedade, em suma, moralizando as relações no espaço público, é de uma ingenuidade inaceitável.  Falta tudo isso, é verdade, em nossas relações na rua, mas não é por isso que a bicicleta não encontra espaço na cidade. Podemos pensar em segregá-la dos demais veículos, em ciclovias, ou implementar a redução dos limites de velocidade nos centros urbanos. Há muitas opções de ação.

Mudamos as condições materiais reais E mudamos a consciências – uma coisa sem a outra não passa de moralismo vazio.

Ciclista. Iberê Camargo

Esclarecidas as idéias, vamos aproveitar a oportunidade para refletir mais detidamente sobre bicicletas, ciclistas e como ambos estão colocados em rota de colisão na grande cidade. Continuar lendo Ciclistas em rota de colisão

Violência, trânsito e jovens

O Ministério da saúde acaba de publicar um estudo que indica que a violência no trânsito está se deslocando das maiores cidades para as menores.

Em 1990, a taxa de mortes no trânsito nos municípios com até 20 mil habitantes (13 mortes por 100 mil hab.) correspondia à metade da registrada naqueles com população com mais de 500 mil pessoas (26 mortes por 100 mil hab.).

Em 2006, a situação se inverteu. Nas grandes cidades, a taxa passou para 15,8 mortes por 100 mil habitantes, enquanto nas pequenas, a taxa elevou-se em mais de 50% chegando a 19,7 mortos por 100 mil habitantes. Continuar lendo Violência, trânsito e jovens